Ele:
Boa noite, pequena.
Ela:
Boa noite.
Silêncio.
Ele:
Já dormiu?
Ela:
To quase. Porquê?
Ele:
Nada.
Silêncio de novo.
Ele:
Pequena?
Ela:
Fala.
Ele:
Você sabia que você foi a melhor coisa que já me aconteceu?
Ela:
Ah, obrigada.
Silêncio de novo.
Ele:
Ainda tá acordada?
Ela:
TÔ, CARALHO. FALA LOGO.
Ele:
Nada não, esqueci.
Ela:
PORRA, ALÉM DE NÃO DEIXAR A GENTE DORMIR, AINDA É POR BESTEIRA. BOA NOITE.
Ela dorme e ele começa a rabiscar algumas palavras em um pedaço de papel enquanto uma lágrima escorre de seu rosto.
Ela acorda, vê o lado da cama vazio e um bilhete, parcialmente molhado.
"Bom dia, meu anjo. Dormiu bem? Espero que sim. Peço
desculpas por ontem à noite, mas eu precisava ouvir sua voz antes de
dormir. E hoje saí logo cedo, pra uma última caminhada no parque. Lembra
que eu disse que fui ao médico há 6 anos, antes de nos conhecermos e
ele diagnosticou câncer de laringe? Então, era verdade. Mas o que não te
disse é que ele disse que eu tinha 6 anos de vida apenas. E lembra
semana passada quando eu fui ao médico, tossindo muito? Ele disse que eu
não passaria por essa noite. E lembra que você acordou várias vezes a
semana toda comigo tossindo e cospindo sangue? Pois é. Era meu corpo
avisando que eu tava no fim. Mas não queria te assustar. Antes de eu
partir, espalhei pela casa algumas surpresas. Quero que tire o dia para
encontrá-las. Te amo, meu amor. Para sempre".
Com lágrimas nos olhos, ela desce a escada, que
estava coberta de margaridas, sua flor favorita. Chegando à sala, um
filhote de cachorro com um lacinho no pescoço dormia no sofá. Havia um
bilhete:
"Sempre quisemos um filho, se lembra? Aqui está.".
Ela fez carinho nele e foi à cozinha, chorando. Uma mesa de café da
manhã montada: pães, patês, geléias, sucos, frutas, café... E uma foto
dele na outra ponta da mesa, onde costumava se sentar. Um bilhete: "Tome
um café comigo.". Depois de uma farta refeição, ela caminhou para o
jardim. No banco onde costumavam se sentar e ver o pôr do sol, uma
caixinha. Dentro, uma aliança com os dizeres "Sempre seu".
Era mais um dia normal, ela acordo, tomo seu café, e ficou sem fazer nada, como sempre. Dia frio, sereno na janela do seu quarto bagunçado. Era bom, se essa bagunça fosse só no quarto dela. Mais não, a bagunça também estava na vida dela, no coração daquela pequena. Pequena, mais porém, com um coração enorme, e partido. Depois de tantos quebrar o coração dela, era possível o coração ainda ter espaço para amar? Ela ainda tinha motivos para sorrir? Talvez sim, talvez não, nunca se sabe né.
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