segunda-feira, abril 16, 2012

Era um jantar a dois, uma mesa pra dois, num restaurante duas estrelas. Havia duas velas, duas toalhas de mesa e dois garçons apenas. O casal chega, senta, pedem duas taças de um vinho barato enquanto decidem o prato principal. Escolhem o item dois, uma macarronada. Quem é que vai num restaurante comer macarronada? Eles iam, toda sexta feira. Um dos garçons se aproxima, anota atenciosamente o pedido e entrega o pedido da mesa dois no balcão. Conversa vai, conversa vem, hoje completavam dois anos de namoro. Quem é que comemora dois anos de namoro num restaurante duas estrelas? Eles comemoravam, todo ano.
Ela prendia o cabelo com dois laços, ele tinha duas tatuagens. Eles moravam no apartamento dois, segundo andar, numa rua do centro da cidade. Um quarto, uma sala, uma cozinha, dois banheiros e duas prateleiras de livros e cds. Era esse o tal mundo dos dois. Ah, e tinha o resturante, esse da macarronada, que ficava a duas quadras do apartamento. Tinha a faculdade que só precisava passar por dois pontos e pronto, chegavam. Tinha o curso dela, começado a dois anos, e o curso dele, que terminava em dois meses. E o ateliê, no fundo do pequeno apartamento, com dois quadros inacabados pendurados em meio a tantos outros que ela gostava de fazer quando estava só.
Ela pensava na janela que deixara aberta e no tempo de chuva que se formava, ele olhava pra ela e pensava quando ela finalmente pararia de usar aqueles laços infantis no cabelo. Ela olha pra ele e não vê o cara que sonhou, ela vê o cara que mesmo as duas da manhã a faz rir com uma piada sem graça, que mesmo com um cabelo sem cortar a dois meses fica lindo assim que sai do banho, o cara que ela precisava. Ele repara no olhar dela. Ele pensa nos olhos dela. Ele pensa nela. Em como ela é bonita sem dois quilos de maquiagem numa manhã de um domingo, como o sorriso dela deveria valer dois bilhões e em quantos mil mistérios aqueles dois olhos guardavam. 
As duas amigas da mesa vizinha observam o casal. As duas já comentam o quanto é bonito ver pessoas assim, amantes. Ele tira um embrulho pequeno de dentro do casaco, elas suspiram já imaginando que ali seria o grande pedido. Ela olha o embrulho confusa e abre. Uma pulseira com dois pingentes, dois corações. No rosto dela escorrem duas lágrimas, no rosto dele estampa a alegria de uma criança de dois anos assim que recebe um elogio. Nos rostos dos dois a gente via o amor. Ele prende a pulseira nela, beija sua mão levemente, ela suspira duas lentas vezes. Ela puxa as duas mãos dele e as aperta com força e sorri. Ele sorri. Eles riem. Elas, as amigas, já enxugam as lágrimas em companhia dos dois garçons. 
O casal termina o jantar e sai, os dois abraçadinhos, encolhidinhos, dentro de um pequeno guarda-chuva. As duas amigas, cada uma com seu carro, pensam em oferecer uma carona. Mas veem o casal brincando enquanto atravessam a rua, desviando de algumas poças e carros, como se fossem crianças e riam, ah, as risadas daqueles dois curava qualquer doença, alimentava qualquer carência. Os dois corações, tanto no pulso dela, quanto nos corpos dos dois, deixavam aquela tarde chuvosa tão bonita. Tão amável. Era dia dois dois, dia de curtir a dois, só os dois. E assim eu termino a história. Era nós dois.

Nenhum comentário:

Postar um comentário