E assim eles estavam: ele no fim da
escada e ela na metade da mesma. Olhando-se como se o mundo fosse acabar
naquele instante, e talvez fosse mesmo. E talvez foi. Eles não se
importavam. A escada presenciava tudo e talvez se ela pudesse falar,
contasse-nos o que realmente aconteceu naquele dia. O que sei, é o pouco
do que houve. Até porque houve mais do que choro, gritos e sussurros.
Houve mais do que entrega, paixão e amor. Mas existem palavras que não
são para ser ditas em uma conversa civilizada:
– Eu te odeio, ela dizia.
– Então porque não vai embora? – ele falou
Nesse momento não sei o que passava na minha cabeça, mas continuaram a dizer.
– Me sinto bem aqui, se você está incomodado então vá você! – falou a menina.
E eles continuaram se olhando. Até
porque não dava para não olhar. No fundo ela queria que ele fosse embora
e na realidade ele queria ir. Mas da mesma forma que ela não dizia, ele
não o fazia. O impossível é necessário, o incrédulo é revigorante. E a
cada discussão aumentavam-se mais um grau de sobrevivência. Porque
ninguém queria ir embora, não no sentido real da palavra. Ela o odiava,
está escrito aí em cima, fora ela mesma que disse. Então de nada
adiantavam as reconciliações, se as brigas vinham em dobro. Como seria
mais tarde? Como seria depois?
– Como você está? (minha pequena)
– Estou bem e você como vai? (Não me pergunte se estou bem…)
– Ótimo como sempre. (Terceira noite em dormir…)
– Que bom! (Ele está bem, como pode?)
– Pois é! (Como ela pode estar bem sem mim?)
– É! (Eu te amo)
– [...] (Preciso de você!)
E essa necessidade de se completarem, de
se tornarem um só, fez com que eles se afastassem. Até porque nenhum
dos dois sabe amar, nem perdoar, nem melhorar, nem mudar, sem somar
[...] Receio até em dizer, mas quem ler esta história pode até pensar o
que ambos estavam teimando juntos. O que mudaria se nem eles se
conheciam direito? Eram opostos que não se atraiam iguais que não era
almas gêmeas. O que eram então?
– Você não me merece! – ela disse.
– Talvez, mas um dia eu te mereci! – completou ele.
– Não sei…
– Se não sabe, me mande embora eu irei e prometo não voltar mais.
– Que promessa? Como tantas as outras que você fez e não cumpriu?
– Você não entende!
– Esse é seu problema, você sempre pensa que eu nunca entendo nada.
– Mas não entende…
(Silêncio)
Está chegando perto do fim, queridos,
mesmo dando dó de dizer. Ela não se limitou a falar, tudo bem, a gritar,
as palavras que tanto a feriram e as que ele tanto queria ou não ouvir:
– Vá embora! E não apareça mais! Por favor, está doendo muito.
[...]
Desculpe mas não posso terminar a
história e logo vocês não saberão o que houve: se ele voltou, se ele
ficou, se ela mudou e se ele foi embora. Não posso terminar, porque já
não existo mais. Não havia somente uma escada no lugar, havia uma casa
também, e pelo tamanho da minha insignificância, eu era o vidro que
estava em cima da mesa do bar e a ultima coisa que me lembro foi quando
ele foi embora, bateu a porta, ela chorou e me jogou na parede. Não me
recordo de mais nada. A menina descendo escada abaixo e ele esfregando
os pés no tapete de fora para poder enfrentar a chuva que estava por vir
foram as ultimas coisas que eu vi. Porque, esta narração, digna de
Oscar, fora os caquinhos que escrevera, porque igual ao coração da
menina, ninguém se lembrou de me colar de novo.
(Ele bateu a porta)
(Ela chorou)
Eu fui quebrado.
Não houve diálogo no final dessa narração, só sons… Mas não dá pra esquecer.
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