Ela: — Você sempre anda com o celular. Por que
deixou ele tocar mais de três vezes? Eu só ia perguntar se você tomou
seu remédio. E se tomou pelo menos dois litros de água. E se passou
repelente antes de dormir. E se tomou banho depois do futebol. E se
respondeu todos os seus e-mails importantes. E se pensou em mim. Um
pouquinho. Dois pouquinhos. Ou um dia todo. Tudo bem, calma. Não se
irrite, não desliga já não. Eu, na verdade, queria pedir o telefone
daquele seu amigo que eu sempre achei bonitão, com aquele mega sorriso,
barba mal feita e ainda usava golo pólo. Ele sempre foi melhor que você,
não é? Fiquei com ele esses dias. Mas passei meu número errado e a
gente perdeu o contato. Sabe o que ele usou no nosso primeiro encontro?
Bermuda jeans. E abriu a porta do carro pra mim. Já você, usou aquelas
bermudas de praia em pleno inverno e me carregou na garupa da sua
bicicleta. Melhor ainda, ele segurou minha mão, usou um perfume doce e
não exagerou na quantidade. Nunca o vi de regata. E os pais deles me
acharam linda. Você acredita que ele até me pagou um almoço? E falou que
eu conseguia manter a beleza comendo. Ele não se preocupou em olhar as
garotas de shorts curtos. Nem mexeu no celular durante o encontro. O
gosto musical dele é ótimo. E ele ainda topou em ver filmes de romance
comigo. O cara é um príncipe. Não reclamou da minha risada escandalosa.
Riu da minha piada sem graça. Limpou minha boca suja de sorvete e eu
ainda passei o numero errado pra ele. Só porque o filha da puta não era
você. Só porque ele não usava aquele seu perfume fedido. Só porque a
gente não caiu na gargalhada depois que eu tropecei. Só porque aquelas
blusinhas da Calvin Klein não eram as suas camisetas com campanha pra
liberar a maconha sendo que você nunca tinha fumado nem narguilé. Eu
passei a porra do telefone errado pro cara certo, esperando que a porra
do cara babaca filha da puta ligasse pro número certo no meio da noite e
falasse que tava tocando aquela música brega no rádio. Mas é que
infelizmente quando ele abriu a porta do carro pra mim eu quis voltar no
dia que você me pegou de bicicleta depois do cursinho de inglês e a
gente foi parar numa praia sem areia. Por que diabos, eu tenho que
preferir você rindo da minha boca suja do que ele limpando? Dá pra você
me fazer o favor de tirar da minha cabeça esse seu sorriso amarelo e
mais lindo do mundo? Dá? Pode ser? Eu tô precisando seguir minha vida,
então para de postar nessas suas redes sociais que você tá seguindo a
sua que me dá a porra de vontade de seguir você, pra gente casar no
civil porque você morre sufocado dentro da igreja. Me faz a porcaria do
favor de sumir de mim? Porque tá dificil carregar o fardo de babaca que
ligou pro ex as 14h do dia 12 de Dezembro só pra comemorar os meses que
eles não fazem mais, esperando que ele interrompa ela falando essas
milhares de besteiras sem usar virgula, e pedir pra voltar, pode fazer
isso logo?
— Desculpa, é a namorada dele aqui. Você quer deixar mais algum recado? (p.s)
Era mais um dia normal, ela acordo, tomo seu café, e ficou sem fazer nada, como sempre. Dia frio, sereno na janela do seu quarto bagunçado. Era bom, se essa bagunça fosse só no quarto dela. Mais não, a bagunça também estava na vida dela, no coração daquela pequena. Pequena, mais porém, com um coração enorme, e partido. Depois de tantos quebrar o coração dela, era possível o coração ainda ter espaço para amar? Ela ainda tinha motivos para sorrir? Talvez sim, talvez não, nunca se sabe né.
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