Perdi o gosto bom das coisas, ela disse no começo da
manhã. Fiquei pouco atônita, pouco pensativa, como assim? Perdi, ela
disse. No final do dia, depois de horas de trabalho, alguma desilusão,
dor nas costas por passar mais de oito horas sentada, o corpo doido por
uma água morna, os pés implorando uma pantufa cheia de aconchego, a
barriga pedindo por favor uma comida boa e honesta, o coração pulando em
busca de um porto, eu entendo. Entendo o gosto dilacerado ou perdido ao
longo do dia. Mas uma manhã como essa, pura e nova e fresca e tão azul,
de um azul bonito e quente, um azul vivo e limpo, não sei.
Era mais um dia normal, ela acordo, tomo seu café, e ficou sem fazer nada, como sempre. Dia frio, sereno na janela do seu quarto bagunçado. Era bom, se essa bagunça fosse só no quarto dela. Mais não, a bagunça também estava na vida dela, no coração daquela pequena. Pequena, mais porém, com um coração enorme, e partido. Depois de tantos quebrar o coração dela, era possível o coração ainda ter espaço para amar? Ela ainda tinha motivos para sorrir? Talvez sim, talvez não, nunca se sabe né.
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