O relógio marcava 02:16h da manhã e o telefone toca.
- Alô?
Silêncio…
- Alô? Sô, é você?
- Oi Bê.
- O que
houve?
- Nada.
- Sô, te conheço. Fala.
Ela fica em silêncio até
que solta um suspiro e diz:
- Eu só espero que a partir de agora você me entenda, como eu quero
ser entendida. Perdi minha vergonha e meu medo para vir aqui, sem ao
menos ter forças para dizer o que vais ouvir agora. Não dê nenhuma palavra,
quero que escute. Apenas escute. ” Bernardo, eu te amo. Eu amo mesmo,
sabe. Eu amo você, e eu não consigo parar de dizer isso. Eu te amo. Eu quero ser
sua para sempre. Quero que acorde e eu seja seu primeiro pensamento. Eu quero
músicas nossas, eu quero uma história. Eu não sei porque brigamos sempre, mas
quero te pedir perdão por tudo. Pelas vezes que te tratei mal por ciúmes, pelos
dias que xinguei por raiva. Pelos dias em que não atendi o celular. Desculpa
pela aquela vez que eu disse que amava outro. E que você simplesmente não era
nada. Perdão por dizer que você era igual a todos os outros.
Desculpe-me. Desculpe-me por todas as vezes que te mandei ir
embora. Por não ter cabeça para te ouvir e nem tão pouco te entender. Perdão por
não responder suas mensagens e te ignorar sempre que estou perto de outro. Pelas
festas que fui sem te avisar e pelos meninos que peguei para te esquecer.
Ele começa a chorar. Ela o ouve e prossegue.
- Perdão por
te fazer chorar. Por não lembrar de você. Por ter deixado entrar outra
em meu lugar, e o mesmo para ti. Perdão pelos sonhos que não sonhei. Pelas
mancadas que dei. Eu sei que não te mereço, e que a unica coisa que eu mereço
agora é o seu desprezo. Mas eu te amo Bernardo. Amo como eu nunca pensei que
amaria. […] Mas eu quero te agradecer também. Você merece.
Obrigada por ter me ajudado quando eu negava a sua ajuda. Por ter me abraçado
quando eu dizia sentir frio. Por ter corrido atrás de mim quando eu disse que
iria embora. Por ter parado a tua vida pela minha. Obrigada pelas noites que
ficou no msn comigo, pelas risadas que me fez dar por suas falhas. Obrigada por
ter me dado atenção. Por ter feito carinho. Por ter sonhado comigo. Obrigada
pelas manhãs alegres e pelas noites de segredo. Por suas palavras. Por você. -
Ele continua a chorar sem dizer nada. Enquanto ela busca forças em algum
lugar para continuar a dizer.
- Você é tudo para mim Bê, você
realmente é tudo. É o amigo que eu sempre procurei, o namorado que eu
sempre desejei. Foi o melhor, infelizmente. Foi o que me ensinou, me segurou.
Foi o que me deu equilíbrio. Foi o que me sustentou por diversas vezes. Por
muito tempo você me completou. E eu deixei de lado, mas eu quero te pedir
perdão. Por tudo. Por todas as minhas babaquices. Por eu ser eu. Eu nunca tentei
ser o melhor para você, e sim para as pessoas. Perdão por isso. Eu te amo. Eu te
amo. Eu te amo. - Ela começa a chorar.
O silêncio era inevitável, até que ele diz:
- Sofia…
- Oi,
Bê. - Diz em soluços.
- Eu te amo, para sempre.
- Eu te amo mais. - Respira - Tenho que desligar.
-
Não, não desliga. Por favor.
- Eu preciso, já tomei seu tempo.
- Mas
antes posso te pedir uma coisa?
- Sim, anjo.
- Aceita se casar comigo?
Para amar e respeitar? Para cuidar e entender? Para chorar e rir? Para bater e
puxar saco? Nos dias tristes e felizes? Nos bons e ruins? Nos legais e nos
chatos? Nos dias fora da rotina? Na saúde e na doença? Na tristeza e na alegria?
Na pobreza e na riqueza? - Ele ri.
- Tenho dezesseis anos,
não posso casar.
- Não vamos casar, só estamos noivando. - Ele
sorri do outro lado da linha.
- Aceito.
- Abre a porta.
- O que?
- É, abre.
- Como assim, está ai fora?
- Sim.
- Mas… mas
como?
- Eu ia te dizer tudo o que disse para mim hoje, só que você
foi mais rápida do que eu.
Ela fica em silêncio.
-
Amor?
- Oi, Bê.
- Sério, abre a porta. Fica aqui com seu marido.
Era mais um dia normal, ela acordo, tomo seu café, e ficou sem fazer nada, como sempre. Dia frio, sereno na janela do seu quarto bagunçado. Era bom, se essa bagunça fosse só no quarto dela. Mais não, a bagunça também estava na vida dela, no coração daquela pequena. Pequena, mais porém, com um coração enorme, e partido. Depois de tantos quebrar o coração dela, era possível o coração ainda ter espaço para amar? Ela ainda tinha motivos para sorrir? Talvez sim, talvez não, nunca se sabe né.
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