A gente finge que arruma o guarda-roupa, arruma o quarto, arruma a
bagunça. Tira aquele tanto de coisa que não serve, porque ocupar espaço
com coisas velhas não dá. As coisas novas querem entrar, tanta coisa
bonita nas lojas por aí. Mas a gente nunca tira tudo. Sempre as esconde
aqui, esconde ali, finge para si mesmo que ainda serve. A gente sabe.
Que tá curta, pequeno, apertado. É que a gente queria tanto. Tanto.
Acredito que arrumar a bagunça da vida é como arrumar a bagunça do
quarto. Tirar tudo, rever roupas e sapatos, experimentar e ver o que
ainda serve, jogar fora algumas coisas, outras separar para doação. Isso
pode servir melhor para outra pessoa. Hora de deixar ir. Alguém precisa
mais do que você. Se livrar. Deixar pra trás. Algumas coisas não servem
mais. Você sabe. Chega. Porque guardar roupa velha dentro da gaveta é
como ocupar o coração com alguém que não lhe serve. Perca de espaço,
tempo, paciência e sentimento. Tem tanta gente interessante por aí
querendo entrar. Deixa. Deixa entrar: na vida, no coração, na cabeça.
— Caio Fernando de Abreu.
Era mais um dia normal, ela acordo, tomo seu café, e ficou sem fazer nada, como sempre. Dia frio, sereno na janela do seu quarto bagunçado. Era bom, se essa bagunça fosse só no quarto dela. Mais não, a bagunça também estava na vida dela, no coração daquela pequena. Pequena, mais porém, com um coração enorme, e partido. Depois de tantos quebrar o coração dela, era possível o coração ainda ter espaço para amar? Ela ainda tinha motivos para sorrir? Talvez sim, talvez não, nunca se sabe né.
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