quarta-feira, março 28, 2012

Dia muitas vezes imaginado e jamais esquecido.
 Levantou-se cedo naquela quarta-feira. Às cinco da manhã. Apenas levantou-se pois despertada já estava. A ânsia de que o tal “momento” chegasse, consumiu sua noite de sono. Ela nasceu para aguardar este dia, e não sabia. Foi até o banheiro, tratou de arrumar-se. Penteava os cabelos para todo lado. Nada parecia bom, suficiente e merecedor daquele dia. Se achava muito baixa, muito curva, muito pálida. Sabia que ele gostava de garotas morenas, então encheu seu rosto com uma base mais escura, que milagrosamente assentou-se bem em suas feições. Logo saiu, caminhando em direção ao colégio. Passou o dia com o olhar preenchido pelo desespero de despedir-se logo daquele lugar cheio de anseios adolescentes. Do murmurar das amigas atrás de sua carteira. Dos berros do professor, que obstinadamente tentava ensinar a matéria ao seus alunos. No fim da manhã o sinal tocou. Para ela, o tilintar agudo e aflito do sino, era como uma carta de alforria. Daquele momento em diante, só faltariam duas horas para ver, falar, abraçar e beijar seu amado. Passou aquelas duas horas pensando em tudo que havia ocorrido. Pensou nas brigas. E riu delas. Riu das vezes em que foi pessimista, crendo que tudo daria errado. Pela primeira vez, ficou feliz por estar absolutamente enganada. Pensou nas lágrimas. Lágrimas que eram a forma de expressar a carência que sentia. Lágrimas que agora se metamorfoseariam em carícias, beijos, mordidas, abraços. Emergiu naqueles pensamentos - que agora lhe pareciam bobos - até que a hora chegou. Pegou um táxi na avenida próxima a sua casa. Entrou, e disse ao motorista:
- Para o Aeroporto Galeão. O mais rápido que você conseguir. - as palavras saíam escarradas da sua boca, por conta do nervosismo de saber que por mais rápido que fosse o motorista, ainda sim ela enfrentaria o trânsito intenso da cidade.
Depois de um tempo, o motorista que notou sua aflição, indagou-lhe:
- O que há, moça? Para que tenha toda essa pressa em chegar lá…
- Moço, você sabe o que é o amor? O amor verdadeiro, aquele que não mede beleza, palavras, esforços e distâncias? - respondeu a garota, já um pouco irritada.
- Sei sim… - disse o motorista.
- E porque não o reconhece quando o vê nos olhos de uma garota? - Indagou com um ar de indignação.
O motorista apenas sorriu. Ela demorou a entender aquele sorriso mal esboçado que homem havia lhe dado, até despertar da sua redoma de devaneios e notar que já haviam chegado. Saiu do carro desesperada. Teria esquecido a bolsa se o taxista não houvesse lhe avisado que saiu sem ela. Ficou na sala de espera do aeroporto por meia hora. Comprou alguns chocolates para se acalmar. Foi ao telão de horários ver quanto tempo ainda duraria aquele castigo. O avião do seu amado pousaria em 10 minutos. 10 minutos esperando em frente ao portão de desembarque. Seu corpo inteiro tremia. Sentiu um vazio grotesco no estômago. As lágrimas começaram a rolar. Pensou em ir embora, teve medo de que quando a visse, ele se decepcionasse. Mas não conseguia mover um músculo. Naquela altura, muitas pessoas já saíam do portão de embarque. Respirou fundo. Mais 10 minutos e ele ainda não havia desembarcado. Seu coração parecia falhar, e seus suspiros eram incessantes. Então, sentiu alguém enroscar os braços em sua cintura. Suas lágrimas esvaíram novamente. Não por desespero, mas por alegria. Sabia que seu maior sonho agora estava abraçado a sua cintura. Sabia que pela primeira vez em muito tempo, a vida havia lhe dado um presente: Tê-lo. Sentiu-o se aproximar, sentiu seu respirar próximo ao seu ouvido. Então ele pronunciou aquelas três palavras que só haviam chegado aos olhos dela:
Eu te amo.
Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele a virou a e a beijou. Não foi um beijo de cinema, ninguém parou para observar. Não houve aplausos. Mas para eles, houve o início do primeiro dia de suas vidas. Sim, porque ali, os dois renasceram. Daquele momento em diante, agora eram dos jovens, sem mágoas, sem pesares. Eram apenas dois jovens tentando fazer feliz um ao outro.
Letícia Christi

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