— | Tati Bernardi |
Era mais um dia normal, ela acordo, tomo seu café, e ficou sem fazer nada, como sempre. Dia frio, sereno na janela do seu quarto bagunçado. Era bom, se essa bagunça fosse só no quarto dela. Mais não, a bagunça também estava na vida dela, no coração daquela pequena. Pequena, mais porém, com um coração enorme, e partido. Depois de tantos quebrar o coração dela, era possível o coração ainda ter espaço para amar? Ela ainda tinha motivos para sorrir? Talvez sim, talvez não, nunca se sabe né.
quinta-feira, março 29, 2012
“Desisti. E isso é a coisa mais triste que tenho a
dizer. A coisa mais triste que já me aconteceu. Eu simplesmente desisti.
Não brigo mais com a vida, não quero entender nada. (…) Vou nos
lugares, vejo a opinião de todo mundo, coisas que acho deprê, outras que
quero somar, mas as deixo lá. Deixo tudo lá. Não mexo em nada. Não
quero. Odeio as frases em inglês, mas o tempo todo penso “I don’t care”.
Caguei. Foda-se. (…) Me nego a brigar. Pra quê? Passei uma vida sendo a
irritadinha, a que queria tudo do seu jeito. Amor só é amor se for
assim. Sotaque tem que ser assim. Comer tem que ser assim. Dirigir,
trabalhar, dormir, respirar. E eu seguia brigando. Querendo o mundo do
meu jeito. Na minha hora. Querendo consertar a fome do mundo e o
restaurante brega. Algo entre uma santa e uma pilantra. Desde que no
controle e irritada. Agora, não quero mais nada. De verdade. (…) Não
quero arrumar, tentar, me vingar, não quero segunda chance, não quero
ganhar, não quero vencer, não quero a última palavra, a explicação, a
mudança, a luta, o jeito. (…) Quero ver a vida em volta, sem sentir
nada. Quero ter uma emoção paralítica. Só rir de leve e
superficialmente. Do que tiver muita graça. E talvez escorrer uma
lágrima para o que for insuportável. Mas tudo meio que por osmose. Nada
pessoal. Algo tipo fantoche, alguém que enfie a mão por dentro de mim,
vez ou outra, e me cause um movimento qualquer. Quero não sentir mais
porra nenhuma. Só não sou uma suicida em potencial porque ser fria me
causa alguma curiosidade. O mundo me viu descabelar, agora vai me ver
dormir e cagar pra ele. Eu quis tanto ser feliz. Tanto. Chegava a ser
arrogante. O trator da felicidade. Atropelei o mundo e eu mesma. Tanta
coisa dentro do peito. Tanta vida. Tanta coisa que só afugenta a tudo e a
todos. Ninguém dá conta do saco sem fundo de quem devora o mundo e
ainda assim não basta. Ninguém dá conta e… quer saber? Nem eu. Chega.
Não quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na
vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a
repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida
ser como é. Desde que eu continue dormindo. Ser invisível, meu grande
pavor, ganhou finalmente uma grande desimportância. Quase um alivio. I
don’t care.”
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