Uma vez me falaram que amar é se jogar de um
precipício sem saber se lá embaixo vai ter alguém para segurar a gente.
Foi a melhor definição de amor que já ouvi. Eu, que escrevo tanto e leio
tanta gente que fala dessas coisas que damos o nome de sentimento,
nunca tinha escutado nada tão verdadeiro. Amar é isso mesmo. É se jogar e
não saber. É se entregar sem ter certeza. Aos poucos, buscamos a
certeza do amor. Porque o amor para ser amor precisa de certezas. A
certeza do encontro, a certeza da continuidade, a certeza da presença, a
certeza da verdade.
Demorei muito para me permitir. Me distraí
durante muito tempo com paixões que não duravam mais que a lua
minguante. Por algum tempo vivi uma relação extremamente conturbada e
complicada. Na verdade, não sei se posso chamar de "relação". Era alguma
coisa sem nome. Aquilo não me deixava em paz, me fazia mais mal do que
bem, mas de alguma maneira eu continuava. Não entendo, a gente se
boicota tanto. Sabemos que queremos e merecemos mais, mas continuamos
insistindo em coisas sem sentido. Punição? Talvez. A gente demora para
se permitir ser feliz. Deve ser por isso que as pessoas ficam tateando
no escuro durante muito tempo até encontrarem a tal pessoa certa. Não
sei se existe a pessoa certa, sei que existe uma pessoa certa para você.
Essa pessoa, por mais errada que seja, é aquela que te dá vontade de
continuar. Continuar lutando, vivendo, acordando, sorrindo. Tem gente
que nos dá essa vontade, aquela vontade de ser melhor para a gente mesmo
e para quem nos rodeia. Mas eu não queria, não me permitia, achava que
daquele jeito estava bom.
Às vezes, não sou legal comigo, você não é
legal com você. Cegos, não conseguimos enxergar. Confusos, não sabemos o
que fazer. Covardes, não nos damos uma chance. Carentes, nos agarramos
na primeira oportunidade. A carência nos tira a visão. A falta de visão
nos emburrece. E assim vamos vivendo um dia após o outro, com um vazio
que nunca sai de dentro e um olhar que procura e nunca acha.
Todo
mundo tem que amar alguém um dia. Não tem como definir, é uma coisa
muito louca e real. Um dia, com o coração cansado, decidi que só queria
coisas boas. Sem migalhas, sem mentiras, sem máscaras. Para amar a gente
tem que se despir de todos os artifícios. Então, resolvi ser mais amiga
de mim. Aproveitar a minha companhia, me curtir, só procurar o que me
fazia bem. Foi aí que, sem querer querendo, a gente apareceu um na vida
do outro. Me deu um medo, um medo. Você sabe, eu sei. Queria fugir, sair
correndo, desistir. Tentei de todas as formas (até bem pouco tempo
atrás) encontrar motivos, fiapinhos do passado e farpas imaginárias para
provar que não daria certo. Mais uma vez eu insisto: ser feliz dá medo e
é muita responsabilidade. Fora o fato da gente não se sentir merecedor.
Fora o fato de pensar
meu-deus-tá-tudo-bem-tudo-perfeito-na-minha-vida-é-certo-que-vou-descobrir-um-câncer.
A gente sempre pensa besteira por achar que não merece aquilo tudo.
Foi
tudo em vão. Dia após dia o mundo, Deus, a vida, as coincidências, o
destino ou sei lá, chame como você quiser, me mostraram que, sim, a
gente tem um amor bonito e de verdade. Que já passou por turbulências,
furacões, que de vez em quando recebe tempestades e trovões, mas que
sempre dá um jeito de deixar o céu azul e o sol brilhando. Porque a
gente gosta do tempo bom. A gente tem uma história que é só nossa, um
amor que é só nosso, uma vida que é só nossa, uma família que é só
nossa. Tudo nosso. E com você eu descobri que sempre posso ir mais além.
Você me mostra umas partes que eu não conhecia. Me mostra uma força que
eu não sabia que tinha. Um jeito maduro e ao mesmo tempo infantil de
continuar vendo a vida. Me desarma com tanto bom humor. Me mostra coisas
que não sabia. Me puxa para a realidade, pois nem só de sonho se vive.
Existe uma troca bonita e, hoje, mais madura. É que já faz mil dias,
amor. Mil dias que a gente se encontrou e nunca mais saiu de perto um do
outro. Mil dias que ouvi o que você disse e me atirei do precipício.
Ainda bem que a gente se jogou. Ainda bem que você esperou por mim. E eu
por você.
Clarissa Corrêa